A programação horizontal, baseada em exibições regulares de programas no mesmo horário todos os dias, é um modelo enraizado na televisão brasileira. Esse padrão de consumo diário não é apenas uma estratégia mercadológica, mas também reflete aspectos psicológicos dos telespectadores, que encontram conforto e previsibilidade nesse formato. Ao explorar os motivos que tornam a programação fixa tão atraente, é possível entender melhor os hábitos de consumo e a relação emocional que o público desenvolve com a TV.
O Conforto da Repetição e a Criação de Rotinas
Um dos principais fatores que explicam o apelo da programação fixa é o impacto da repetição na formação de hábitos. A previsibilidade dos horários reforça a criação de rotinas, permitindo que o público integre a programação da TV ao seu cotidiano. Por exemplo, novelas e telejornais são frequentemente associados a momentos específicos do dia, como o jantar ou o fim da noite. Esse padrão cria uma sensação de familiaridade e segurança, contribuindo para a fidelidade do público.
Além disso, a repetição diária ajuda a fortalecer a conexão emocional com os programas. O público desenvolve um vínculo com os personagens das novelas ou apresentadores dos noticiários, que se tornam quase como “membros da família”. Essa relação é reforçada pela continuidade narrativa e pela presença constante no dia a dia.
O Papel da Psicologia no Engajamento do Público
A psicologia comportamental destaca que a repetição e a consistência são fatores fundamentais para criar hábitos e construir lealdade. No caso da programação horizontal, essa teoria se aplica perfeitamente. A exibição regular de um conteúdo específico condiciona o telespectador a sintonizar o canal no mesmo horário, criando um ciclo de engajamento. Além disso, a expectativa gerada pelo próximo episódio ou a continuação de uma história atua como um reforço positivo, incentivando o retorno do público.
Outro aspecto relevante é o sentimento de pertencimento que a programação fixa pode proporcionar. Quando muitas pessoas assistem ao mesmo programa no mesmo horário, cria-se uma experiência coletiva, mesmo que cada espectador esteja em sua própria casa. Isso se reflete em conversas do dia seguinte, memes nas redes sociais e debates sobre os acontecimentos mais marcantes, fortalecendo a relevância social do conteúdo.
Importante lembrar também que existem outras formas de estruturar a grade televisiva e que também se encaixam no conceito de programação fixa. A programação de TV também é estruturada no conceito de programação vertical e, na TV por assinatura, é comum encontrarmos também a programação diagonal.
O Futuro da Programação Horizontal na Era Digital
Embora a programação horizontal tenha sido amplamente bem-sucedida, ela enfrenta desafios na era do streaming e do consumo sob demanda. Plataformas como Netflix e Amazon Prime Video oferecem flexibilidade, permitindo que os espectadores escolham o que assistir e quando assistir. No entanto, mesmo nesses serviços, o conceito de programação fixa não foi completamente abandonado. Exemplos disso são os lançamentos semanais de episódios em algumas séries, que buscam recriar a expectativa gerada pela TV tradicional.
Na televisão aberta brasileira, a programação horizontal continua relevante, especialmente em horários nobres. A adaptação desse modelo ao contexto digital, como a inclusão de interações online e conteúdos complementares, pode ser a chave para manter sua relevância entre gerações mais jovens.
Por fim…
A programação fixa na TV brasileira não é apenas uma estratégia comercial, mas também um reflexo das necessidades psicológicas do público por previsibilidade e pertencimento. Ao oferecer conforto e criar rotinas, esse modelo consolidou programas icônicos e formou gerações de telespectadores. Mesmo em tempos de streaming, a força da programação horizontal demonstra que hábitos culturais e emocionais são difíceis de abandonar. O desafio para o futuro será equilibrar tradição e inovação, garantindo que a televisão continue a ser um elemento central na vida dos brasileiros.
Professor universitário desde 2005, é mestre em comunicação e especialista em criação visual e multimídia. Trabalhou em importantes faculdades e colégios técnicos de São Paulo e Santo André. Radialista de formação, teve passagem por emissoras de TV e Produtoras de TV e Internet. Atualmente dirige a TeleObjetiva e coordena os cursos de Rádio, TV e Internet; Produção Audiovisual e Fotografia da FAPCOM, além da comissão própria de avaliação (CPA) da instituição.