Iara Bernardes e a memória cultural de Itapevi

Iara Bernardes e a memória cultural de Itapevi

A memória cultural de Itapevi é o ponto de partida e o fio condutor da emocionante conversa entre o jornalista Marcos Torquato e a jornalista, produtora cultural e ativista Iara Bernardes, no sexto episódio da série Papo com Marcos Torquato. Em pouco mais de uma hora de bate-papo, o programa revela os bastidores de uma vida dedicada à valorização da arte, da memória coletiva e da identidade local, através das experiências pessoais de Iara, suas referências afetivas e sua luta incansável pela cultura de sua cidade natal.

Com sua narrativa envolvente, Iara relembra o papel formador de sua infância vivida em um lar modesto, porém culturalmente efervescente. O bar dos pais era mais do que um ponto comercial: funcionava como um espaço de trocas artísticas e políticas, berço informal de manifestações que viriam a marcar a história da cidade. Dali, surgiram não apenas amizades, mas também movimentos culturais, encontros poéticos e o início de uma trajetória de engajamento afetivo com a memória de Itapevi.

Vozes esquecidas e resgates necessários

Durante a entrevista, Iara Bernardes faz questão de rememorar personagens importantes para a história cultural de Itapevi. Entre eles, destaca a professora de música Mércia de Oliveira Colia, pioneira como mulher em banda municipal no estado, e Susumo Arada, artista plástico e criador da Casa de Cultura de Itapevi — espaço emblemático que promovia performances, lançamentos e encontros literários. A lembrança da demolição desse espaço, classificada por Iara como “tombamento no pior sentido”, resume a negligência com que o poder público trata a cultura local.

Outro momento de grande impacto é quando Iara cita a ausência de reconhecimento a figuras como o fotógrafo Pena Prearo, o antropólogo Luís Henrique Toledo (o Kik), o geólogo Rogério Moreno e a escritora Janete Carregosa. Ao levantar esses nomes, a jornalista denuncia um padrão: a tendência da cidade de apagar aqueles que, apesar de contribuírem significativamente para sua formação identitária, acabam invisibilizados por políticas frágeis ou inexistentes de valorização da cultura.

Entrevista de Iara Bernardes no programa "Papo com Marcos Torquato (ep. 6)" - A memória cultural de Itapevi.

Essa crítica é reforçada pelo exemplo do documentário sobre Mércia Colia, realizado por um cineasta de fora da cidade. Para Iara, esse gesto deveria ter partido de dentro, como sinal de respeito e cuidado com a própria história. A provocação que lança ao ar — “Cadê o documentário do Susumo?” — é uma pergunta que reverbera como manifesto.

Cultura como identidade e pertencimento

A memória cultural de Itapevi é também materializada nos movimentos que Iara ajudou a construir. Um dos mais marcantes foi o Itart, coletivo literário independente que produziu saraus, oficinas e livros com apoio do comércio local. O grupo foi responsável pela publicação de “Devaneio de um Poeta”, livro de estreia de Marcos Torquato, e representou um marco de resistência e produção cultural fora dos grandes centros. Ao ler um trecho da obra durante a entrevista, Iara se emociona e ressalta o valor de reconhecer os “privilégios culturais” que muitos ignoram.

Esse reconhecimento, segundo ela, passa necessariamente pela memória coletiva. Acredita que jovens precisam conhecer os nomes que construíram a cultura local, para que possam entender a importância de manter vivas essas histórias. Para Iara, a cultura é mais do que entretenimento: é consciência, história e afirmação de identidade.

Essa perspectiva é reafirmada no presente. Atualmente, Iara lidera a produção de um festival musical realizado no ITA Shopping Center. O evento, organizado em parceria com comerciantes, demonstra o potencial da cultura quando há mobilização comunitária. A adesão crescente do público comprova, segundo ela, que “as pessoas gostam de cultura — só precisam ter acesso”.

O afeto como elo entre memória e ação

Além das histórias públicas, o episódio do Papo com Torquato mergulha nas vivências íntimas da entrevistada. Iara compartilha, pela primeira vez, a experiência da depressão de sua mãe e como isso a obrigou a se afastar temporariamente da cidade. No entanto, jamais rompeu seu laço com Itapevi. A decisão de trazer as cinzas da mãe de volta ao município é simbólica: representa a força dos vínculos afetivos que resistem às dores e às frustrações.

Esse sentimento atravessa toda a entrevista e revela como a memória cultural de Itapevi se entrelaça com a vida pessoal de quem a constrói. O afeto, aqui, é motor de ação. Move Iara a produzir, preservar, resgatar e provocar. Em seu relato, a cultura não é abstrata, nem burocrática. É feita de corpos, vozes, encontros e emoções.

Encerrando o episódio, o jornalista Marcos Torquato agradece emocionado a participação da convidada. Iara responde com carinho e espontaneidade: “Você é um menino que eu gosto demais. E bora nós.” A despedida resume a tônica de toda a conversa: um gesto de afeto, memória e continuidade.

Preservar a memória para fortalecer o futuro

A entrevista com Iara Bernardes é mais do que um registro biográfico: é um alerta sobre a urgência de valorizar a memória cultural de Itapevi. Em sua fala, Iara não apenas resgata nomes e espaços esquecidos, mas propõe caminhos para o futuro. A mobilização comunitária, o incentivo à juventude e o fortalecimento da produção cultural independente surgem como pilares de uma cidade que pode — e deve — reconhecer suas raízes.

Num cenário em que tantos talentos locais foram e ainda são esquecidos, ouvir Iara é lembrar que a cultura é um bem comum. Preservá-la não é apenas dever do Estado, mas uma tarefa coletiva. O passado de Itapevi, vivido por tantas mãos e vozes, só poderá inspirar o amanhã se for cuidado no presente.

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