O movimento cultural em Itapevi teve um marco fundamental com a atuação do poeta e produtor cultural Celso Portela. Sua trajetória, repleta de momentos de resistência artística, construção coletiva e paixão pela literatura, representa um capítulo significativo na história cultural da cidade e da região. A partir de suas primeiras experiências com a poesia, ainda na infância, até a fundação do ITART, Celso tornou-se um dos principais nomes na valorização da arte local. Nesta edição do programa “Papo com Marcos Torquato”, traçamos sua trajetória e o impacto de suas ações na memória artística de Itapevi.
Celso Portela: da infância poética à publicação de “Complexo de Ilca”
Celso Portela iniciou sua relação com a escrita ainda criança, influenciado por sua madrinha, que o encorajava a guardar seus versos, mesmo os mais simples. Desde a alfabetização, já escrevia poemas para colegas e professoras, demonstrando sensibilidade e um olhar aguçado para a linguagem poética. A escrita era, desde cedo, uma extensão de sua identidade.
Nos anos 1990, realizou o sonho de publicar seu primeiro livro: Complexo de Ilca. A obra reúne 50 poemas e nasceu de uma história pessoal – um romance adolescente que o marcou profundamente. O livro foi lançado de forma independente, publicado pela editora Escortesce, voltada à poesia. Essa experiência não apenas consolidou sua presença como poeta, mas também demonstrou sua determinação em manter viva a produção literária mesmo sem o apoio de grandes estruturas editoriais.
Celso Portela - Papo com Torquato - ed. #7
MAEPO e ITART: a força dos coletivos artísticos na formação cultural
A vivência com o MAEPO (Movimento de Artistas, Escritores e Poetas de Osasco) foi o ponto de partida para que Celso Portela percebesse a força dos coletivos culturais. As reuniões semanais, realizadas na Associação Cristã de Moços, serviam como espaços de partilha, criação e fortalecimento da identidade artística dos participantes.
Inspirado por essa experiência e acompanhado de amigos, Portela fundou o ITART – Movimento de Artistas de Itapevi. A iniciativa surgiu com a publicação de um livro coletivo, que seria o único do movimento, pois os membros seguiram caminhos distintos. Ainda assim, a importância do projeto é indiscutível. Com patrocínio de comerciantes locais, o livro rompeu fronteiras, chegando aos Estados Unidos e à Itália, simbolizando o alcance de uma produção genuinamente itapeviense. O movimento cultural em Itapevi ganhou, assim, uma dimensão nova, com um marco documental e afetivo que representou o início de uma identidade artística local.
Portela afirma que o ITART deixou um legado valioso para a cidade. Mesmo com apenas uma publicação, serviu como fonte para pesquisadores e jovens artistas que desejam entender como se iniciou a produção cultural organizada em Itapevi. Foi uma ação pioneira que deu visibilidade à literatura em um momento em que a cidade praticamente não tinha iniciativas culturais estruturadas.
Perspectivas da cultura em Itapevi: ontem e hoje
Quando compara os anos 1990 com os dias atuais, Celso Portela demonstra um certo distanciamento do cenário cultural atual, mas faz observações relevantes. Nos anos 90, a cultura local era quase inexistente em termos institucionais. Havia o jornal do Kazumi como principal veículo de difusão artística e cultural. Saraus, lançamentos de livros e outras manifestações eram raros ou inexistentes. O movimento cultural em Itapevi, como o ITART, representou uma ruptura importante com essa realidade.
Hoje, mesmo sem estar inserido diretamente, Portela reconhece que há um crescimento na produção de eventos, notícias e manifestações culturais. A cidade se transformou em um território mais fértil para a arte, refletindo a influência de movimentos anteriores como o ITART.
Apesar de não ter lançado novos livros desde Complexo de Ilca, Portela mantém sua produção em atividade. Ele escreve crônicas e histórias inspiradas nas vivências como taxista, e já iniciou um segundo livro, Olhos de Atriz, ainda em rascunho. Participou também de algumas antologias, inclusive a convite do MAEPO. Sua produção é hoje mais pessoal, mas ainda alinhada com o compromisso de narrar a vida e o cotidiano com sensibilidade poética.
Considerações finais sobre o movimento cultural em Itapevi
A trajetória de Celso Portela ilustra como o movimento cultural em Itapevi foi forjado a partir da iniciativa individual e da colaboração entre artistas. O surgimento do ITART não foi apenas uma ação pontual, mas um sinal de que a arte pode nascer e florescer mesmo em cidades sem tradição literária. Sua história inspira novas gerações e mostra a importância de registros e movimentos que rompem com o silêncio e valorizam as expressões locais.
Itapevi hoje colhe os frutos de iniciativas como o ITART, mesmo que de forma indireta. Os livros, as crônicas e a persistência de nomes como Celso Portela são a prova de que a cultura precisa de espaços, mas também de coragem e comprometimento para existir. É nessa trajetória que reside a verdadeira força de um movimento cultural.
Professor universitário desde 2005, é mestre em comunicação e especialista em criação visual e multimídia. Trabalhou em importantes faculdades e colégios técnicos de São Paulo e Santo André. Radialista de formação, teve passagem por emissoras de TV e Produtoras de TV e Internet. Atualmente dirige a TeleObjetiva e coordena os cursos de Rádio, TV e Internet; Produção Audiovisual e Fotografia da FAPCOM, além da comissão própria de avaliação (CPA) da instituição.