TV Mix: A Revolução Jovem na TV Brasileira

O programa TV Mix, da TV Gazeta, marcou a televisão brasileira por sua abordagem inovadora e dinâmica. Criado em 1987, sob a direção de Fernando Meirelles e com produção da Olhar Eletrônico, o programa introduziu um formato de quadros curtos e variados que revolucionou a linguagem televisiva. Este artigo explora os dados históricos sobre o programa e sua emissora, seus diferenciais, os problemas enfrentados e o impacto cultural que gerou.

O TV Mix e a TV Gazeta

A TV Gazeta, inaugurada em 1970 pela Fundação Cásper Líbero, sempre se destacou como uma emissora experimental e inovadora. Localizada no emblemático endereço da Avenida Paulista, 900, a emissora buscava oferecer conteúdos diferentes dos padrões televisivos tradicionais. Foi nesse ambiente que surgiu o TV Mix, lançado em 14 de dezembro de 1987.

O programa possuía uma estrutura incomum para a época, com quatro edições diárias (TV Mix I, II, III e IV), adaptadas a diferentes públicos e horários. Cada edição tinha apresentadores próprios, como Astrid Fontenelle, Sérgio Groisman, e Luís Henrique, que interpretava a icônica personagem Condessa Giovanna Civetta. Com temas que iam de cultura pop a esportes, o TV Mix criou uma “grade pizza”, onde cada quadro curto representava uma fatia do conteúdo.

Chamadas da TV Gazeta com as 4 edições do programa "TV Mix". Fonte: Canal Acervo80hj / YouTube

TV Mix 4 - 1988. Fonte: canal MarceloTadeo/YouTube

TV Mix - 1988. Quadro de Marcelo Mansfield. Fonte: Canal Marcelo Mansfield / YouTube

Entrevista da banda Titãs no TV Mix/1988. Fonte: canal Arquivo Titãs / YouTube

Diferenciais do programa: Inovação e Liberdade Criativa

O TV Mix foi pioneiro em vários aspectos da televisão brasileira:

• Formato Fragmentado: Cada quadro tinha entre dois e três minutos, trazendo dinamismo à programação. O formato era baseado na estrutura da programação das Rádios FM, que intercalavam música e quadros ao longo da hora.
• Conteúdo Diversificado: Mesclava entrevistas, esquetes de humor, música e reportagens ao vivo da Avenida Paulista.
• Apelo Jovem e Experimental: A produção era leve e informal, característica que ressoava com o público jovem.
• Repórteres-Abelha: as reportagens externas eram conduzidas por vídeo-repórteres, chamados à época de “repórteres abelha”, os quais ficaram responsáveis pela gravação (utilizando câmeras de baixo custo, no formato de fita VHS caseiro), e narração/condução da matéria. O conteúdo era entregue pronto, sem edição, para veiculação imediata, o que garantia a agilidade do programa.
• Inclusão de Humor e Personagens: Criou figuras marcantes, como a Condessa Giovanna Civetta, e investiu em esquetes cômicos.

Essas inovações influenciaram diretamente a criação da MTV Brasil, que adotou o mesmo espírito jovem e linguagem visual despojada quando estreou em 1990.

Problemas Enfrentados pelo programa

Apesar de sua originalidade, o TV Mix enfrentou desafios significativos:

1. Falta de Apoio Financeiro: O programa dependia de patrocínios, que eram escassos devido à resistência inicial do mercado publicitário.
2. Mercado Televisivo Conservador: A inovação do formato não era plenamente compreendida por muitos anunciantes e até pelo público da época.
3. Infraestrutura Limitada: Operando com recursos reduzidos, a produção improvisava frequentemente, o que, embora contribuísse para seu charme, limitava sua expansão.

Esses problemas levaram ao encerramento do programa em junho de 1989, deixando um legado, mas também evidenciando as dificuldades de inovar no mercado televisivo.

Impacto Cultural do TV MIX

O TV Mix deixou um impacto cultural duradouro na televisão brasileira, tanto pela sua linguagem inovadora quanto pela inspiração que trouxe para outros programas e formatos na TV Gazeta e em outras emissoras.

Programas Derivados Durante o Período do TV Mix

Dois programas notáveis foram criados enquanto o TV Mix estava no ar, ambos mantendo o espírito criativo e experimental:

1. Câmera Aberta: Apresentado por Alê Primo, o programa ia ao ar pela manhã, entre as edições do TV Mix I e II. O programa era composto basicamente pelas interações com o público diretamente das ruas, utilizando o conceito dos “abelhas”, jovens jornalistas que realizavam matérias dinâmicas e espontâneas. O programa marcou época por transformar a Avenida Paulista em um espaço interativo e democrático, tornando-se um símbolo de jornalismo experimental.
2. Paulista 900: O Paulista 900 ia ao ar ao vivo no horário nobre, às 20 horas, competindo diretamente com a novela da TV Globo. Ele era gravado no mesmo andar da redação do TV Mix, que frequentemente servia como cenário para o programa​​. Inicialmente apresentado por Paula Dip, o programa adotava uma abordagem leve e descontraída, rompendo com o estilo sério predominante na televisão da época. Paula Dip inovava ao não ensaiar entrevistas e criar um clima de espontaneidade com os convidados. Após sua saída, Amália Rocha assumiu o comando do programa, de 1990 a 1993​.  O Paulista 900 adotava um estilo espontâneo e leve, marcando um diferencial em relação aos talk shows tradicionais da época.

Trecho do programa "Câmera Aberta" da TV Gazeta. Fonte: Canal AlêPrimoTV/Youtube.

Solange O. Farkas no programa Paulista 900 (1988). Fonte: Canal VideoBrasil / YouTube

Legado

O TV Mix foi um marco na história da televisão brasileira, rompendo com os padrões tradicionais e pavimentando o caminho para uma nova linguagem televisiva. Apesar dos desafios, sua ousadia e criatividade continuam sendo lembradas como um divisor de águas na comunicação. O programa não apenas revelou talentos, mas também influenciou profundamente o cenário televisivo, provando que há espaço para a experimentação e inovação na TV.