A Rede Manchete, fundada em 1983 por Adolpho Bloch, foi um marco na televisão brasileira, conhecida por sua qualidade técnica e produções de alto nível. No livro Rede Manchete: Aconteceu, Virou História, Elmo Francfort explora em profundidade a trajetória da emissora, desde sua fundação até seu fechamento em 1999. A obra, que integra a Coleção Aplauso (editada pela Imprensa oficial do estado de São Paulo), é um registro rico e detalhado, com depoimentos, análises e dados históricos que contextualizam o impacto da Manchete no cenário cultural e televisivo do Brasil.
Breve História da Rede Manchete
A Rede Manchete foi criada para ser uma emissora de vanguarda, apostando em tecnologia de ponta, cenários sofisticados e programação diferenciada. Desde sua inauguração em 1983, com a presença de figuras ilustres e uma programação inaugural marcante, a emissora estabeleceu um padrão de qualidade que rivalizou com a Rede Globo.
Entre os marcos históricos, destacam-se:
- A exibição de novelas como Pantanal (1990), que revolucionou a teledramaturgia ao utilizar locações naturais e temas místicos.
- O Jornal da Manchete trouxe inovações no jornalismo televisivo com reportagens analíticas e cobertura internacional.
- A valorização da cultura brasileira em produções como Xica da Silva (1996) e Kananga do Japão (1989), que abordaram temas históricos e sociais com profundidade e qualidade estética.
Legados da Rede Manchete
Jornalismo
O Jornal da Manchete é um dos legados mais importantes da emissora. Caracterizado por sua abordagem aprofundada e cobertura de eventos nacionais e internacionais, ele elevou os padrões do jornalismo televisivo no Brasil. A qualidade técnica e a análise criteriosa dos fatos fizeram dele uma referência no segmento.
O jornal também inovou por sua duração, superior à 1 hora por edição (chegando a ter até 2 horas em alguns momentos), divisão por blocos temáticos e por usar a central técnica como cenário.
Dramaturgia
A dramaturgia da Manchete foi responsável por algumas das novelas mais icônicas da televisão brasileira. Entre elas:
- Pantanal (1990): Um divisor de águas na teledramaturgia, com narrativa inovadora e ambientação no Pantanal mato-grossense.
- Dona Beija (1986): Produção histórica que explorou o empoderamento feminino no século XIX.
- A História de Ana Raio e Zé Trovão (1990): Uma homenagem à cultura sertaneja, com gravações externas que exploraram paisagens brasileiras.
Essas produções, junto a outras, destacaram-se pelo cuidado estético, roteiros diferenciados e a valorização da cultura e do território nacional.
Os Processos de Venda: 1992/1993 e 1999
Venda para o Grupo IBF (1992/1993)
A primeira grande tentativa de revitalizar a Rede Manchete ocorreu em 1992, com a venda para o Grupo IBF. Sob promessas de estabilizar financeiramente a emissora, o IBF adquiriu o controle da Manchete, mas enfrentou dificuldades em administrar a rede devido à falta de experiência no mercado televisivo. Conflitos entre os grupos Bloch e IBF resultaram em disputas judiciais e na degradação da estrutura administrativa da emissora. Diferentemente de outras transições de comando, não houve acordo para a devolução do controle à família Bloch (em 1993), o que aprofundou os problemas financeiros e operacionais da Manchete.
Crise Final e Venda para a RedeTV! (1999)
Já em 1999, sob uma crise financeira insustentável, a Rede Manchete encerrou definitivamente suas atividades. A concessão da emissora foi então adquirida por empresários que fundaram a RedeTV!, encerrando um ciclo de 16 anos de contribuições significativas ao jornalismo e à dramaturgia no Brasil.
Análise Crítica do Livro
Rede Manchete: Aconteceu, Virou História é uma obra rica em detalhes, apresentando uma linha cronológica bem estruturada que contextualiza os principais eventos da história da emissora. A inclusão de dados técnicos, como investimentos iniciais e os desafios enfrentados, oferece um panorama completo e informativo.
O livro é consistente em sua narrativa, apresentando fatos históricos bem documentados e explicando o impacto cultural da Manchete no Brasil. No entanto, em alguns momentos, a obra pode parecer “parcial” ao valorizar excessivamente os feitos da emissora, sem explorar a fundo os erros administrativos que contribuíram para sua crise. Mas é uma boa que retrata fielmente a história da rede e sua importância histórica e social
Um dos pontos altos do livro são os depoimentos de ex-funcionários, que oferecem uma perspectiva humana e única sobre os bastidores da emissora. Esses relatos enriquecem a obra, permitindo ao leitor compreender melhor o espírito de inovação que guiava a Manchete, bem como os desafios enfrentados pela equipe em períodos de crise.
Considerações Finais
O livro Rede Manchete: Aconteceu, Virou História é um documento essencial para quem deseja compreender a história da televisão brasileira e o impacto cultural de uma das emissoras mais inovadoras do país. Embora tenha enfrentado dificuldades financeiras e operacionais, a Rede Manchete permanece como um símbolo de qualidade e ousadia, cujas produções continuam a ser lembradas e admiradas. A obra de Elmo Francfort captura com maestria os altos e baixos dessa trajetória, tornando-se um registro valioso para a memória da comunicação no Brasil.
Ficha Técnica do Livro: Rede Manchete: Aconteceu, Virou História
Título: Rede Manchete: Aconteceu, Virou História
Autor: Elmo Francfort
Coleção: Aplauso – Série Especial
Ano de Publicação: 2008
Editora: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Coordenação Geral da Coleção: Rubens Ewald Filho
Formato: Livro impresso. Versão em PDF e TXT disponível gratuitamente no site da coleção.
Páginas: 426 páginas
Idioma: Português
Temática: História da Televisão Brasileira, Biografia Corporativa, Cultura e Comunicação
Objetivo: Resgatar e documentar a história da Rede Manchete, abordando sua fundação, marcos históricos, impacto cultural, produções icônicas, desafios financeiros e encerramento.
Diferenciais: O livro conta com depoimentos de ex-funcionários, análises técnicas e narrativas sobre os bastidores da emissora, contextualizando sua relevância para a comunicação brasileira.
Professor universitário desde 2005, é mestre em comunicação e especialista em criação visual e multimídia. Trabalhou em importantes faculdades e colégios técnicos de São Paulo e Santo André. Radialista de formação, teve passagem por emissoras de TV e Produtoras de TV e Internet. Atualmente dirige a TeleObjetiva e coordena os cursos de Rádio, TV e Internet; Produção Audiovisual e Fotografia da FAPCOM, além da comissão própria de avaliação (CPA) da instituição.
