Música com alma: Celso Viáfora no Biscoito Raro

Música com alma: Celso Viáfora no Biscoito Raro

A quinta edição da série Biscoito Raro apresenta um olhar sensível e profundo sobre a trajetória de Celso Viáfora, cantor e compositor paulistano cuja obra transita entre o lirismo, a crítica social e a celebração da vida. Com voz própria na Música Popular Brasileira, Viáfora é reconhecido por sua capacidade de criar canções ao mesmo tempo delicadas e potentes, com forte apelo poético e reflexivo.

Originalmente exibido em 2004 na programação da Art Haus TV, o episódio intercala trechos de entrevistas com o artista e performances musicais que revelam a riqueza de seu trabalho autoral. Celso Viáfora fala de sua formação, de suas parcerias, de sua visão de mundo e, acima de tudo, do compromisso que assumiu com a arte e com a sensibilidade humana. Um episódio que, como o próprio artista, afirma a música como forma de existência.

Celso Viáfora: arte, emoção e compromisso com a canção

Ao longo da entrevista, Celso Viáfora afirma que cantar e compor não são apenas atividades profissionais, mas verdadeiros imperativos existenciais. “É uma profissão de fé”, afirma o artista, com a convicção de quem encontrou na música uma maneira de atravessar e compreender a vida. Seu processo criativo é movido pela emoção, pelo desejo de dizer algo ao mundo — e por isso, mesmo com pouco espaço no mercado fonográfico tradicional, ele segue criando com paixão.

Viáfora compartilha que sente falta de se apresentar ao vivo quando passa muito tempo afastado dos palcos. A necessidade de contato com o público, de transformar a música em encontro, faz parte do que o move. Essa relação afetiva com o fazer musical se reflete na qualidade e no cuidado com suas composições.

Entre suas parcerias musicais, destaca-se a colaboração com Vicente Barreto, parceiro de longa data, e mais recentemente (na época) com Ivan Lins, com quem já compôs cerca de 40 canções. Esses encontros criativos revelam um artista generoso, atento à escuta e aberto ao diálogo poético e musical.

Ao comentar suas influências, Viáfora menciona Chico Buarque — em especial o disco “Volume 3” — como um divisor de águas em sua formação. Outros nomes presentes em sua base estética são Tom Jobim, Noel Rosa, Geraldo Pereira, Paulinho da Viola, João Bosco, Aldir Blanc e Guinga. São artistas que, como ele, cultivam a palavra, a melodia e o pensamento crítico com igual intensidade.

Sua visão de mundo também se destaca ao longo da entrevista. Viáfora expressa um olhar generoso sobre a vida, que considera uma oportunidade de aprendizado e alegria. Ao mesmo tempo, denuncia as distorções do mercado musical, como o sistema de “jabá” (pagamentos feitos para tocar músicas nas rádios), que afasta o público da diversidade musical existente no Brasil. Para ele, o sucesso não deve ser medido por dados ou algoritmos, mas pela autenticidade da obra e pela capacidade de tocar as pessoas.

Celso Viáfora no programa Biscoito Raro (2004)

Celso Viáfora e a relevância de uma arte engajada no humano

O trabalho de Celso Viáfora carrega um valor que vai além da canção: ele representa um compromisso com a integridade artística. Sua música não se dobra às exigências comerciais e tampouco busca a superficialidade. Em vez disso, propõe uma escuta ativa, reflexiva, capaz de despertar afetos e pensamento.

Nos anos 2000, Viáfora envolveu-se em um projeto social com crianças da comunidade de Paraisópolis, zona sul de São Paulo. A experiência, segundo ele, foi transformadora e reforçou sua crença na arte como instrumento de aproximação, educação e empatia. Para ele, a música pode — e deve — ser uma ferramenta de reintegração humana, um meio de expressar o amor universal, conceito que frequentemente aparece em suas letras e declarações.

Sua carreira foi construída com independência e convicção. Embora esteja fora do mainstream, Celso Viáfora possui um público fiel, formado por admiradores da canção brasileira sofisticada, aquela que une harmonia, poesia e senso crítico. Seus discos são verdadeiros manifestos da possibilidade de se fazer arte com profundidade, mesmo em meio às exigências do consumo rápido.

A estética de Viáfora lembra o conceito de “música de resistência”, no qual a escolha por determinados temas, formatos e valores se opõe à pasteurização cultural. Ele não teme falar de amor, de fé, de política ou de sensações cotidianas. E, por isso mesmo, oferece ao público uma experiência artística rara: a de ouvir com o coração e pensar com a emoção.

O episódio do Biscoito Raro dedicado a Celso Viáfora é, portanto, um documento precioso de um tempo e de um artista que não se acomodou, que buscou caminhos próprios, e que entende a música como missão.

Preservando a memória da canção brasileira independente

O programa Biscoito Raro, veiculada pela Art Haus TV entre maio e dezembro de 2004, nasceu do desejo de registrar artistas e expressões culturais que estavam fora dos circuitos comerciais da grande mídia. Criada pelos jornalistas Paulo Pelicano (1952–2009) Antonio Franco, a série teve apenas 10 episódios, mas marcou um momento especial da produção cultural independente brasileira.

A proposta era simples e profunda: dar visibilidade a artistas “raros”, cuja obra se destacasse pela autenticidade, pela qualidade poética e musical, e pelo compromisso com a cultura brasileira. A escolha do nome Biscoito Raro era simbólica — cada edição trazia um artista que merecia ser saboreado com atenção, como uma iguaria cultural.

Hoje, o acervo da Art Haus TV está sob os cuidados da produtora TeleObjetiva, que assumiu a tarefa de resgatar, catalogar e compartilhar com o público essa produção histórica. Ao tornar disponíveis os episódios da série, a TeleObjetiva cumpre um papel importante na preservação da memória midiática e musical do país.

Mais do que um trabalho de arquivo, esse resgate é uma homenagem à atuação visionária de Paulo Pelicano, cuja sensibilidade jornalística e cultural deu origem a projetos que seguem relevantes até hoje. Seu olhar para os artistas independentes e sua dedicação à produção alternativa continuam inspirando novas iniciativas na comunicação e na cultura.

Assim, revisitar o episódio de Biscoito Raro com Celso Viáfora é mais do que redescobrir um artista singular — é celebrar a canção como linguagem de resistência, beleza e verdade.

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