Migração das rádios AM para o FM e o futuro do rádio

Migração das rádios AM para o FM e o futuro do rádio

A migração das rádios AM para o FM representa uma das maiores transformações da radiodifusão brasileira nas últimas décadas. O processo, iniciado oficialmente em 2013, busca modernizar o setor, reduzir interferências e garantir maior qualidade de som para os ouvintes. No entanto, essa transição também trouxe desafios importantes, desde custos de adaptação até a perda de características históricas da transmissão em amplitude modulada.

O início da migração e seus marcos históricos

A discussão sobre a migração das emissoras AM para FM começou no início dos anos 2000, mas foi somente em 2013, com o Decreto nº 8.139, que a medida ganhou força legal. O decreto estabeleceu a possibilidade de rádios AM solicitarem a mudança de outorga para a faixa de frequência modulada.

O grande motivador dessa transição foi o crescimento das interferências urbanas que prejudicavam a recepção em AM, especialmente nas grandes cidades. A popularização de equipamentos eletrônicos, redes elétricas densas e dispositivos digitais tornava cada vez mais difícil manter a qualidade do sinal em amplitude modulada.

Em 2020, a Anatel publicou a Resolução nº 721, que atualizou o regulamento de canalização e condições de uso da faixa de FM, abrindo espaço para a expansão do dial e a inclusão do FM estendido (76,1 a 87,5 MHz). Esse foi um passo fundamental para acomodar centenas de rádios AM que não encontravam espaço no dial convencional.

O marco seguinte veio em 7 de maio de 2021, quando a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) inaugurou as primeiras transmissões no FM estendido, em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, dando início oficial a essa nova etapa.

Até 2023, mais de 1.185 rádios AM já haviam migrado para o FM, segundo dados do Ministério das Comunicações. Em 2025, estimativas do setor indicam que mais de 1.160 emissoras já estão ativas no dial FM, sendo que várias operam exclusivamente no FM estendido.

Como funciona o FM estendido

O FM estendido surgiu como solução para a falta de espaço no dial tradicional (87,5 a 107,9 MHz). Com o desligamento do sinal analógico de TV, a faixa entre 76 e 87 MHz, antes usada para os canais 5 e 6 de VHF, foi liberada. Assim, criou-se a possibilidade de que emissoras AM migrassem para essa nova faixa.

Embora tecnicamente eficiente, o FM estendido ainda enfrenta o desafio da compatibilidade dos receptores. Muitos rádios antigos não conseguem sintonizar abaixo de 88 MHz, o que exige renovação do parque de aparelhos. Para contornar esse problema, o governo determinou que todos os rádios automotivos fabricados a partir de 2019 no Brasil sejam capazes de receber de 76 a 108 MHz.

Vantagens da migração AM para FM

Qualidade de áudio superior

A principal vantagem da migração é a melhoria na qualidade sonora. O FM oferece som estéreo, com menos ruídos e interferências, algo essencial em áreas urbanas densas. Isso permite que os ouvintes tenham uma experiência muito mais agradável, tanto em casa quanto em automóveis.

Modernização tecnológica

As rádios que migraram puderam investir em novos transmissores e antenas, modernizando seu parque tecnológico. Essa atualização não apenas melhora a qualidade da transmissão, mas também reduz custos operacionais a longo prazo, já que os transmissores de FM são mais eficientes energeticamente.

Expansão de audiência

Pesquisas apontam que a migração resultou em ganhos de audiência. Em 2018, estudo da ABERT/Datacenso revelou que 95% das emissoras migrantes avaliaram a mudança como positiva. O FM tem maior presença em celulares, automóveis e dispositivos móveis, o que garante maior penetração entre públicos mais jovens e conectados.

Menor interferência

Enquanto o AM sofre com ruídos de motores, eletrodomésticos e redes de energia, o FM é menos vulnerável a esses problemas, proporcionando uma transmissão mais estável.

Desafios e desvantagens da migração

Perda do alcance do AM

Um dos pontos negativos é a redução de alcance. O AM tem a capacidade de cobrir grandes distâncias, principalmente no período noturno, graças à propagação por ondas de céu. Já o FM tem cobertura mais limitada, o que impacta rádios que atendiam áreas rurais ou comunidades distantes.

Custos de adaptação

A migração exige investimentos elevados em transmissores, antenas e até obras de infraestrutura. Para muitas rádios de pequeno porte, especialmente no interior, esse custo representou um grande desafio. Há registros de emissoras que demoraram anos para concluir o processo justamente por falta de recursos.

Compatibilidade de receptores no FM estendido

Outro problema é que nem todos os ouvintes têm receptores que alcançam o FM estendido. Embora os carros fabricados recentemente já contem com esse suporte, rádios domésticos e aparelhos antigos ainda não conseguem sintonizar essa faixa, o que pode limitar a audiência das emissoras alocadas nessa parte do dial.

Risco de perda da identidade local

Pesquisadores também apontam que a migração pode levar a uma padronização de conteúdo, com rádios locais adotando grades de programação em rede para reduzir custos. Isso pode comprometer a identidade cultural e comunitária que sempre foi característica de muitas rádios AM.

Impactos para o futuro da radiodifusão

A migração das rádios AM para o FM está em estágio avançado, mas ainda não totalmente concluída. As rádios regionais e nacionais continuam autorizadas a operar em AM por mais tempo, enquanto as locais tiveram prazo encerrado em 31 de dezembro de 2023.

Com o avanço do FM estendido, espera-se que cada vez mais ouvintes tenham receptores compatíveis, especialmente à medida que novos modelos de automóveis e dispositivos chegam ao mercado.

O futuro da radiodifusão também passa pela integração com plataformas digitais. Muitas emissoras que migraram para o FM aproveitaram o momento para reforçar sua presença na internet, com transmissões simultâneas via streaming, aplicativos móveis e integração com redes sociais.

Considerações finais

A migração das rádios AM para o FM é um processo irreversível e necessário para a modernização da radiodifusão brasileira. As vantagens em termos de qualidade de som, estabilidade e audiência são inegáveis, mas os desafios de cobertura, custos e adaptação tecnológica ainda exigem atenção.

O sucesso do FM estendido dependerá da massificação dos receptores e da capacidade das rádios de manter seu vínculo cultural e comunitário, sem abrir mão da modernização. Trata-se de uma mudança histórica que redefine o papel do rádio no século XXI, equilibrando tradição e inovação.

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