Veja a trajetória da televisão brasileira, da recepção em VHF e UHF até a popularização da TV por satélite e pela Internet.
O acesso à programação de televisão no Brasil passou por diferentes fases tecnológicas, cada uma marcada por inovações que ampliaram a cobertura, a qualidade e a diversidade de conteúdos disponíveis ao público. Dos primeiros sinais transmitidos em VHF, passando pela expansão do UHF, até o boom das parabólicas em Banda C e a popularização da TV direta ao lar em Banda Ku, cada sistema deixou um legado que moldou a relação dos brasileiros com a TV.
O sistema de televisão via VHF
A televisão brasileira iniciou suas transmissões na década de 1950, usando a faixa de VHF (Very High Frequency), que cobre as frequências entre 54–88 MHz (canais 2 a 6) e 174–216 MHz (canais 7 a 13).
O VHF oferecia um bom alcance, com cobertura que podia chegar a 100 km por transmissor. Seu uso consolidou a TV aberta como meio de massa, especialmente em áreas urbanas e rurais. Entretanto, havia limitações importantes: o número reduzido de canais disponíveis e a suscetibilidade a interferências elétricas.
No Brasil, sistemas como o PAL-M foram adotados para codificação de imagem e cor, combinando elementos do NTSC e do PAL. O VHF foi a base para a massificação da TV nas décadas de 1950 a 1980, marcando o início da cultura televisiva no país.
O sistema de televisão via UHF
A faixa de UHF (Ultra High Frequency), entre 470–806 MHz, trouxe expansão significativa para a televisão. Cada canal também possuía largura de 6 MHz, mas o espectro maior permitia dezenas de emissoras adicionais, aliviando a saturação do VHF.
O UHF apresentou vantagens técnicas: menos interferências elétricas e maior capacidade de suportar a TV digital. Por outro lado, tinha alcance menor, exigindo mais retransmissores para cobrir regiões extensas.
Na prática, o UHF foi decisivo na diversificação do mercado televisivo brasileiro, especialmente a partir dos anos 1980, quando várias emissoras locais e nacionais lançaram seus sinais nesta faixa. Com a adoção da TV digital terrestre (ISDB-Tb) no Brasil, o UHF tornou-se a principal faixa de transmissão aberta, já que o VHF mostrou dificuldades de adaptação ao novo sistema.
A recepção de televisão por satélite: Banda C e Banda Ku
Com a expansão da televisão para regiões afastadas, a recepção via satélite ganhou relevância. Dois sistemas marcaram essa fase:
- Banda C (3,7–4,2 GHz no downlink): Foi pioneira na TV via satélite no Brasil. Ficou famosa pelas “parabólicas de quintal” dos anos 1980 e 1990, que democratizaram o acesso a canais nacionais em locais remotos. Sua principal vantagem era a robustez contra interferências climáticas. A limitação estava no tamanho das antenas, que variavam entre 1,8 e 3,7 metros.
- Banda Ku (11,7–12,7 GHz no downlink): Tornou-se popular nos anos 1990 com a chegada da SKY e da DirecTV, marcando o início da TV paga direta ao lar (DTH). Antenas menores (45–90 cm) facilitaram a instalação em áreas urbanas, permitindo a oferta de pacotes de canais segmentados, em alta definição e, posteriormente, em 4K. A limitação principal é a atenuação do sinal durante chuvas intensas (rain fade).
A Banda C foi responsável por integrar o Brasil continental à televisão nacional, enquanto a Banda Ku consolidou a TV por assinatura como modelo de negócio.
Comparação entre VHF, UHF, Banda C e Banda Ku
Critério | VHF | UHF | Banda C | Banda Ku |
Faixa de Frequência | 54–88 MHz / 174–216 MHz | 470–806 MHz | Downlink: 3,7–4,2 GHz | Downlink: 11,7–12,7 GHz |
Largura de Canal/Transponder | 6 MHz | 6 MHz | ~36 MHz | 36–54 MHz |
Antenas típicas | Yagi ou log-periódica (0,5–1,5 m) | Log-periódica ou painel (0,3–1,0 m) | Parabólicas grandes (1,8–3,7 m) | Mini-parabólicas (45–90 cm) |
Alcance/Cobertura | 60–100 km | 20–60 km | Continental (ampla cobertura) | Regional ou nacional (feixes focalizados) |
Vantagens | Bom alcance, penetração rural | Mais canais, menos ruído | Alta robustez contra clima | Antenas pequenas, ideal para DTH |
Limitações | Poucos canais, ruídos elétricos | Alcance menor, mais retransmissores | Antenas grandes, custo alto | Atenuação por chuva (rain fade) |
Relevância histórica | Base da TV no Brasil (anos 50–80) | Diversificação e TV digital | Democratizou acesso nos anos 80–90 | Popularizou TV paga nos anos 90–2000 |
A TV via Internet: o IPTV
Com a evolução tecnológica, surgiu um novo modelo de acesso: a televisão via Internet (IPTV e OTT). Diferente do VHF, UHF e dos satélites, o IPTV depende de conexão de banda larga e entrega os sinais via protocolos como HLS e DASH.
Esse sistema trouxe flexibilidade: assistir em diferentes dispositivos, rever programas (catch-up/replay) e integrar múltiplos serviços em uma só plataforma. No Brasil, exemplos como a Claro tv+ e a Zapping mostram o novo padrão: aplicativos que oferecem canais ao vivo, vídeo sob demanda e integração com outros serviços de streaming.
Se no passado a parabólica ou a antena externa eram necessárias, hoje basta uma conexão estável à Internet para acessar dezenas de canais em alta definição.
Por fim,
O acesso à programação de televisão no Brasil reflete a evolução das tecnologias de comunicação: do VHF pioneiro, que inaugurou a TV no país; do UHF, que multiplicou canais e viabilizou a TV digital; da Banda C, que levou sinal às regiões mais distantes; da Banda Ku, que popularizou a TV paga direta ao lar; até o atual IPTV, que coloca a televisão na palma da mão.
Para o público, conhecer essas características é compreender como cada etapa possibilitou maior acesso, qualidade e diversidade de conteúdos — e perceber como o presente convive com o legado das gerações anteriores.
Professor universitário desde 2005, é Mestre em Comunicação e Especialista em Criação Visual e Multimídia. Trabalhou em importantes faculdades e colégios técnicos de São Paulo e Santo André. Radialista de formação, teve passagem por emissoras de TV e Produtoras de TV e Internet. Durante quase 10 anos, coordenou o curso de Rádio, TV e Internet FAPCOM. Também coordenou os cursos de Produção Audiovisual e Fotografia (durante 4 anos) e de Multimídia (durante 2 anos) da mesma instituição. Antes, coordenou o curso técnico em Multimídia do Liceu de Artes e Ofícios (2009-2010). Atualmente é diretor-executivo da TeleObjetiva e professor da FAPCOM.