O primeiro canal de notícias do mundo completa 40 anos em 2020. A CNN (Cable News Network), foi lançada no mercado norte-americano em 1o de Junho de 1980 por um empresário que não tinha qualquer ligação com o jornalismo: Ted Turner.
Turner possuia dois canais de TV no interior dos Estados Unidos na década de 1970. Percebendo o crescimento do mercado de TV por Assinatura e o surgimento de canais criados para a nova forma de distribuir sinais de televisão, Ted Turner passou a distribuir o sinal de umas das emissoras via satélite (tecnologia que estava expansão no mercado norte-americano), e mirou sua programação em esportes e filmes antigos. Nascia assim a TBS – Turner Broadcast Superstation.
Nesta emissora o jornalismo ocupava uma parcela mínima e não poderia ser considerado um produto sério. Mesmo assim, ao perceber que tinha perdido a primazia de criar canais de Filmes e Esportes (cujo pioneirismo coube à HBO e a ESPN), Turner resolveu lançar um canal de notícias.
Neste cenário adverso que a CNN foi lançada. E a história dos seus primeiros dez anos está registrada no livro “CNN – A História Real”, de Hank Whittemore. O livro foi lançado no Brasil em 1990 pela Editora Best Seller.
A comparação com o mercado nacional de televisão é inevitável. Uma delas é a relação de troca de matérias entre a CNN e as emissoras afiliadas das grandes redes, o que só era possível pois lá as afiliadas possuem mais autonomia do que as afiliadas brasileiras. Mesmo assim houve a pressão das grandes redes para limitar o alcance da CNN. Outra comparação possível está relacionada aos acordos para a distribuição e veiculação do canal pelas operadoras de TV por assinatura.
Outras boas sacadas possíveis de serem aprendidas com a história relatada no livro tem mais a ver com empreendedorismo do que com o jornalismo em si. Ao escolher criar um canal de jornalismo 24 horas por dia, Turner identificou uma oportunidade de negócios que ainda não era explorada. Estudou a concorrência e verificou que a programação das grandes redes era falha, ao limitar a cobertura de notícias em alguns períodos do dia. Ao enfrentar a ameaça da ABC, principal rede à época (e que lançaria um canal concorrente, o SNC – Sattélite News Channel, com jornais de 20 minutos atualizados ao longo do dia), Ted Turner lançou um segundo canal com formato similar (Headline News) e, depois, comprou o concorrente sem ter dinheiro em caixa.
Os bastidores das coberturas que permitiram dar à CNN a credibilidade mundial que ela alcançou na sua primeira década de existência também são retratados no livro. A mais marcante é a cobertura dos protestos que levaram ao massacre da Praça da Paz Celestial, em Pequim (1989), cujo detalhes da transmissão fazem parte do último capítulo do livro.
Quando o livro foi lançado no Brasil, a CNN já era uma marca consolidada e sinônimo de credibilidade. A versão internacional do canal chegou a ser parcialmente exibida pela TV Cultura de São Paulo em 1989, causando na época grande repercussão e polêmica (na época, ainda marcada sob forte nacionalismo, a transmissão de programas em inglês era visto como uma forma de invasão cultural e transmissão ilegal de programas).
Na tv por assinatura a CNN chegou ao país em 1991, com exclusividade pela TVA e com alguns programas sendo transmitidos pelo GNT (inicialmente chamado “Globosat News Television“), que era um canal de jornalismo e informação da Globosat (a segmentação do canal foi alterada após o lançamento da GloboNews, em 1996).
Em tempo: No último dia 15 de março foi inaugurada a CNN Brasil. A marca foi licenciada por um grupo brasileiro ligado aos setores bancários e de construção civil. Em comum com a iniciativa de Ted Turner está o fato de também ser uma empresa sem qualquer tradição em jornalismo ou televisão.
Saiba mais sobre a CNN
Professor universitário desde 2005, é mestre em comunicação e especialista em criação visual e multimídia. Trabalhou em importantes faculdades e colégios técnicos de São Paulo e Santo André. Radialista de formação, teve passagem por emissoras de TV e Produtoras de TV e Internet. Atualmente dirige a TeleObjetiva e coordena os cursos de Rádio, TV e Internet; Produção Audiovisual e Fotografia da FAPCOM, além da comissão própria de avaliação (CPA) da instituição.