O décimo e último episódio da série Biscoito Raro é uma declaração de amor, uma crônica audiovisual profundamente pessoal escrita e narrada por Paulo Pelicano, jornalista e um dos idealizadores do Biscoito Raro. Diferente das outras edições do programa, esta não traz entrevistas ou apresentações de músicos brasileiros, mas sim um relato íntimo sobre a atriz e cantora britânica Jane Birkin — ícone do cinema e da música na Europa dos anos 1960 e 1970.
Paulo narra o episódio em primeira pessoa, com a emoção de um fã, a sensibilidade de um poeta e a precisão de um jornalista apaixonado por imagens, sons e sentimentos. O vídeo é uma homenagem sincera, pontuada por lembranças, referências culturais e um momento inesquecível vivido no camarim do Sesc Pinheiros, em São Paulo, onde teve a oportunidade de conhecer Jane Birkin pessoalmente em 2004.
Um tributo sensível à musa do cinema francês
O episódio se constrói a partir da lembrança da apresentação de Jane Birkin no Sesc Pinheiros, em São Paulo. O narrador descreve a emoção de vê-la cantar ao vivo, revivendo canções emblemáticas como “Je t’aime… moi non plus”, que gravou ao lado de Serge Gainsbourg, seu grande parceiro artístico e amoroso.
Durante o show, Jane cantou, dançou, e comentou com carinho sobre a espontaneidade do público brasileiro. Foi uma noite marcada por afeto e sensibilidade. Paulo Pelicano não apenas assistiu à apresentação, como também teve o privilégio de encontrar Jane no camarim, um momento que ele descreve com detalhes poéticos e emocionados.
Ele observa as marcas do tempo em seu rosto, mas também a doçura de alguém que carrega memórias profundas. Em um gesto simples e afetuoso, Jane Birkin encosta a cabeça em seu ombro para tirar uma foto. Para Pelicano, aquele instante representa o ápice do afeto que a arte pode proporcionar. “Era o cinema francês tocando meu ombro com docilidade”, narra.
Ao longo da narrativa, o jornalista entrelaça sua admiração com episódios da carreira da artista, reafirmando a importância de Jane Birkin na construção de uma sensibilidade cinematográfica e musical que atravessou fronteiras. A homenagem é pessoal, mas sua intensidade a transforma em um gesto coletivo — como se dissesse ao público: “ela também foi um pouco nossa”.
Jane Birkin. Biscoito Raro - Ep. 10. Para assistir, clique aqui.
Jane Birkin: arte, estilo e legado internacional
Nascida em Londres em 1946 e radicada na França desde os anos 1960, Jane Birkin construiu uma carreira singular no cinema e na música. Tornou-se musa de diretores como Jacques Rivette e Jean-Luc Godard, e consolidou sua imagem no imaginário europeu ao lado de Serge Gainsbourg, com quem formou uma das duplas mais icônicas da cultura pop do século XX.
“Je t’aime… moi non plus”, a canção mais conhecida de sua discografia, chegou a ser censurada em vários países por seu conteúdo erótico e por sua intensidade emocional. Ainda assim, o disco vendeu milhões de cópias e se tornou um marco do erotismo na música internacional. Ao longo das décadas seguintes, Jane lançou álbuns solos, atuou em dezenas de filmes e colaborou com artistas de diferentes gerações.
Jane Birkin também foi símbolo de estilo e elegância. Seu nome foi emprestado à icônica bolsa Birkin, criada pela Hermès após um encontro casual com a artista em um voo. Mas, acima de tudo, Jane é lembrada por sua presença sutil, sua doçura melancólica e seu compromisso com causas humanitárias, como os direitos das mulheres e dos refugiados.
Sua voz delicada e sua postura discreta se tornaram marcas registradas, conquistando fãs em todo o mundo. No Brasil, embora sua presença na mídia nunca tenha sido constante, seu trabalho foi celebrado por uma legião de admiradores — entre eles, Paulo Pelicano, que neste episódio de Biscoito Raro, oferece uma das mais sensíveis homenagens já feitas à artista em solo brasileiro.
Jane Birkin faleceu em 16 de julho de 2023, aos 76 anos.
O Biscoito Raro como exercício de afeto e preservação cultural
O episódio com Jane Birkin encerra a série Biscoito Raro, veiculada pela Art Haus TV entre maio e dezembro de 2004. Criado por Paulo Pelicano (1952–2009) e Antonio Franco, o programa foi pensado para registrar artistas raros — aqueles cuja arte não se rende aos modismos, mas permanece viva no tempo.
Neste episódio, Paulo Pelicano torna-se personagem, narrador e espectador de sua própria história com a arte. A homenagem a Jane Birkin é também um gesto de despedida de um tempo mais sensível, em que os encontros com a arte eram menos mediados e mais vividos. A câmera, neste caso, não apenas registra — ela compartilha uma emoção.
Hoje, este episódio faz parte do acervo da produtora TeleObjetiva, responsável pelo resgate e preservação do material produzido pela Art Haus TV. A digitalização e disponibilização deste conteúdo fazem parte de um esforço para tornar acessível uma memória afetiva e cultural que ainda pulsa — nas canções, nos rostos, nas palavras.
O reencontro com Jane Birkin através das lentes e palavras de Paulo Pelicano é um presente raro, um “biscoito” que alimenta não apenas a memória, mas o sentimento de que a arte, quando verdadeira, é eterna.
Para assistir ao programa, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=sLc8Hnp2GAI
Professor universitário desde 2005, é Mestre em Comunicação e Especialista em Criação Visual e Multimídia. Trabalhou em importantes faculdades e colégios técnicos de São Paulo e Santo André. Radialista de formação, teve passagem por emissoras de TV e Produtoras de TV e Internet. Durante quase 10 anos, coordenou o curso de Rádio, TV e Internet FAPCOM. Também coordenou os cursos de Produção Audiovisual e Fotografia (durante 4 anos) e de Multimídia (durante 2 anos) da mesma instituição. Antes, coordenou o curso técnico em Multimídia do Liceu de Artes e Ofícios (2009-2010). Atualmente é diretor-executivo da TeleObjetiva e professor da FAPCOM.